Em um mundo cada vez mais multipolar, o bloco BRICS — formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — vem ganhando protagonismo. A recente expansão do grupo, com a entrada de novos países, e os planos para criar uma nova moeda internacional, colocam em xeque a hegemonia do dólar e desafiam a ordem econômica global.
Neste artigo, você vai entender:
- O que é o BRICS e como ele surgiu;
- Por que o bloco está se expandindo;
- O que significa o processo de desdolarização mundial;
- E como isso pode mudar o equilíbrio do poder no planeta.
O Que é o BRICS?
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Imagem gerada por IA |
O termo BRIC foi criado em 2001 pelo economista Jim O'Neill, para se referir a quatro países emergentes com alto potencial econômico: Brasil, Rússia, Índia e China. A sigla ganhou força, e, em 2009, o grupo realizou sua primeira cúpula oficial. Em 2010, a África do Sul entrou no grupo, formando o BRICS atual.
Objetivos principais do BRICS:
- Reformar as instituições internacionais (como FMI e Banco Mundial);
- Estimular o comércio entre os países membros;
- Reduzir a dependência do Ocidente;
- Promover o desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Expansão Histórica: Quem Está Entrando no BRICS?
Na cúpula de Joanesburgo (2023), o BRICS convidou oficialmente seis novos países para integrarem o bloco:
- Argentina (que depois recusou)
- Egito
- Etiópia
- Irã
- Arábia Saudita
- Emirados Árabes Unidos
Por que essa expansão é importante?
- Inclui países com grande peso geopolítico e energético (como Arábia Saudita e Irã);
- Amplia o alcance do grupo na África e no Oriente Médio;
- Reforça a intenção de formar uma aliança global alternativa ao G7.
A Estratégia de Desdolarização
O BRICS tem como uma de suas prioridades a redução da dependência do dólar nas transações internacionais. Isso é chamado de desdolarização.
Por que desdolarizar?
- O dólar é usado em mais de 80% das transações globais.
- Ele garante poder econômico e político aos EUA, inclusive para aplicar sanções internacionais.
- Muitos países sentem-se reféns dessa estrutura, especialmente Rússia, China e Irã.
O que o BRICS está fazendo:
- Criando mecanismos de comércio em moedas locais;
- Incentivando acordos bilaterais fora do dólar (como yuan-rublos ou rúpia-real);
- Estudando a criação de uma moeda comum, que poderia ser lastreada em ouro ou em uma cesta de moedas dos membros.
O Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos BRICS)
Fundado em 2014, com sede em Xangai, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) é uma das instituições-chave do bloco.
Objetivos do NDB:
- Financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países membros;
- Oferecer alternativas aos empréstimos do FMI e do Banco Mundial;
- Operar em moedas locais, reduzindo o uso do dólar.
Destaque recente:
-
A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff assumiu a presidência do banco em 2023, reforçando o papel do Brasil na liderança do bloco.
Impactos da Desdolarização no Mundo
A tentativa do BRICS de substituir o dólar em suas trocas comerciais e financeiras pode trazer grandes transformações geopolíticas.
1. Enfraquecimento do dólar
- Menor demanda global pela moeda americana;
- Redução do poder de sanções econômicas dos EUA;
- Aumento da influência de moedas como o yuan (China) e o rublo (Rússia).
2. Mudança no sistema financeiro global
- Novas instituições podem ganhar força frente ao FMI e Banco Mundial;
- Países emergentes podem ter mais voz nas decisões econômicas internacionais;
- O surgimento de novas redes de pagamento alternativas ao SWIFT.
3. Tensões com o Ocidente
- Os EUA e a União Europeia veem com cautela essa reorganização;
- Podem surgir barreiras comerciais ou diplomáticas;
- A disputa entre G7 e BRICS pode acirrar a polarização geoeconômica.
Desafios Internos do BRICS
Apesar do crescimento, o BRICS enfrenta desafios internos significativos:
1. Diferenças entre os membros
- Rivalidade entre Índia e China;
- Sistemas políticos distintos (democracias, autocracias e teocracias);
- Dificuldade de convergência em políticas externas e econômicas.
2. Moeda comum ainda é um projeto distante
- Criar uma moeda exige alinhamento fiscal, monetário e político;
- A diversidade econômica dos membros dificulta esse processo;
- O uso de moedas locais ainda enfrenta problemas de confiança e liquidez.
3. Credibilidade internacional
O BRICS precisa mostrar que consegue:- Resolver conflitos internos;
- Ser eficiente em seus projetos;
- Oferecer estabilidade e segurança jurídica para investimentos.
O Papel do Brasil na Nova Geopolítica
O Brasil tem posição estratégica dentro do BRICS:
- É a maior economia da América do Sul;
- Tem liderança regional e vastos recursos naturais;
- Atua como ponte entre países ocidentais e emergentes.
Desafios para o Brasil:
- Manter sua independência diplomática;
- Aproveitar as oportunidades de investimento do NDB;
- Evitar ser visto como alinhado demais a China ou Rússia, mantendo pluralidade nas relações internacionais.
BRICS x G7: Duas Visões de Mundo
A disputa entre BRICS e G7 é, na prática, uma batalha por influência e modelo de governança.
BRICS | G7 |
---|---|
Países emergentes | Países industrializados |
Multipolaridade | Hegemonia Ocidental |
Moedas locais / desdolarização | Domínio do dólar e euro |
Cooperação Sul-Sul | Acordos Norte-Norte |
Conclusão: Um Novo Capítulo da Ordem Mundial
A expansão dos BRICS e o movimento pela desdolarização marcam o início de um novo capítulo na geopolítica global.
O bloco ainda está longe de substituir o dólar ou as instituições ocidentais, mas seu avanço é claro e crescente.
Se o BRICS conseguir:
- Superar suas diferenças internas;
- Ampliar sua influência de forma coordenada;
- E criar alternativas viáveis para o sistema financeiro internacional…
...então o mundo verá o surgimento de uma nova ordem global, mais plural, descentralizada e com vários centros de poder.
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Editor do blog
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