O que é o IRA?
O IRA (Irish Republican Army), ou Exército Republicano Irlandês, foi um grupo paramilitar que lutou pela independência da Irlanda e, posteriormente, pela unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda. O IRA teve diferentes fases ao longo do tempo, sendo o IRA Provisório (Provisional IRA) o mais conhecido, principalmente por sua atuação violenta entre as décadas de 1960 e 1990.
O grupo é um dos protagonistas mais controversos da história moderna do Reino Unido e da Irlanda, sendo rotulado por uns como organização terrorista e por outros como um grupo de resistência nacionalista.
Origem do IRA
A história do IRA começa em 1919, logo após a Proclamação da República Irlandesa de 1916, durante a Revolta da Páscoa. A Irlanda, então dominada pelo Império Britânico, estava em ebulição política. O IRA surgiu como sucessor dos Voluntários Irlandeses, com o objetivo de expulsar os britânicos e conquistar a independência da ilha.
Entre 1919 e 1921, o IRA travou a chamada Guerra de Independência da Irlanda, lutando contra o exército britânico. O conflito culminou com o Tratado Anglo-Irlandês, que estabeleceu o Estado Livre Irlandês, mas deixou a Irlanda do Norte sob controle britânico — ponto central para os conflitos posteriores.
Divisão e o surgimento do IRA Provisório
Após o tratado, o IRA se dividiu. Muitos aceitaram o acordo, enquanto outros rejeitaram a separação da Irlanda do Norte. Isso levou à Guerra Civil Irlandesa (1922–1923). O grupo que rejeitou o tratado continuou a se autodenominar IRA, mas ficou marginalizado por décadas.
Foi apenas nos anos 1960 e 1970, com o aumento das tensões sectárias na Irlanda do Norte, que o IRA voltou a ganhar força. O surgimento do IRA Provisório (Provisional IRA), em 1969, marcou o início de uma nova fase sangrenta, conhecida como The Troubles.
O que foi “The Troubles”?
The Troubles foi um conflito violento e prolongado entre nacionalistas (majoritariamente católicos), que queriam a união com a República da Irlanda, e unionistas (majoritariamente protestantes), que desejavam permanecer parte do Reino Unido. O IRA Provisório foi o principal grupo armado entre os nacionalistas, enquanto grupos como a UVF (Ulster Volunteer Force) e a UDA (Ulster Defence Association) atuavam no lado unionista.
Esse período durou de 1969 até 1998 e causou a morte de mais de 3.500 pessoas. O IRA conduziu atentados a bomba, assassinatos e emboscadas, muitas vezes atingindo civis. Os atentados de Birmingham (1974) e o ataque ao hotel Brighton (1984), onde quase matou a então primeira-ministra Margaret Thatcher, estão entre os mais lembrados.
Estratégias do IRA
O IRA Provisório operava com uma estrutura altamente descentralizada, composta por "células" autônomas, o que dificultava o combate por parte das autoridades britânicas. O grupo financiava suas operações por meio de extorsão, tráfico de armas e apoio de simpatizantes, inclusive da comunidade irlandesa nos EUA.
Seus alvos incluíam militares britânicos, policiais da Irlanda do Norte (RUC), políticos, instalações públicas e até shopping centers. Os métodos variavam entre carros-bomba, emboscadas armadas e sequestros.
Reações e repressão
O Reino Unido respondeu com forte repressão: prisões em massa, tribunais especiais, leis antiterrorismo e a presença constante do exército britânico na Irlanda do Norte. Um dos eventos mais emblemáticos foi o Domingo Sangrento (Bloody Sunday), em 1972, quando 14 manifestantes civis foram mortos por soldados britânicos durante um protesto pacífico em Derry.
Esse massacre alimentou ainda mais o ódio entre a população católica e aumentou o recrutamento para o IRA.
Caminho para a paz: Acordo de Belfast
Na década de 1990, após anos de violência e pressões internacionais, começou um processo de negociação de paz. O IRA anunciou cessar-fogo em 1994, retomado definitivamente em 1997. Isso levou ao Acordo de Belfast (ou Acordo de Sexta-Feira Santa), assinado em 1998, com apoio de partidos políticos da Irlanda do Norte, do Reino Unido e da República da Irlanda.
O acordo estabeleceu um novo governo autônomo, baseado no poder compartilhado entre nacionalistas e unionistas, além da desmilitarização progressiva do IRA.
O fim oficial das armas
Em 2005, o IRA anunciou oficialmente o fim da luta armada e o desmantelamento de seu arsenal, acompanhado por observadores internacionais. Essa decisão foi crucial para estabilizar a política da Irlanda do Norte e permitir a integração do partido político Sinn Féin (braço político do IRA) ao sistema democrático.
IRA hoje: existe ainda?
Embora o IRA Provisório tenha encerrado sua atuação armada, grupos dissidentes surgiram, como o Real IRA e o New IRA, que rejeitam o acordo de paz e ainda realizam ações violentas, embora em escala muito menor.
No entanto, o apoio popular a esses grupos é baixo, e a maioria da população irlandesa defende a via democrática.
Impactos do IRA na história irlandesa e britânica
O IRA foi um dos agentes mais influentes da história recente da Irlanda e do Reino Unido. Apesar de seus métodos violentos, ajudou a trazer à tona questões históricas não resolvidas, como a ocupação britânica, a divisão sectária e a desigualdade social.
Por outro lado, o uso do terrorismo como estratégia deixou cicatrizes profundas em milhares de famílias, tanto na Irlanda do Norte quanto na Inglaterra. O debate sobre se o IRA foi um grupo terrorista ou um movimento de libertação ainda divide opiniões.
Conclusão
A história do Grupo IRA é marcada por luta, violência, ideologia e busca por soberania. Para entender os conflitos contemporâneos na Europa e os desafios do nacionalismo moderno, é fundamental compreender o papel que o IRA desempenhou.
O legado do IRA continua vivo na política irlandesa, nas memórias dos que viveram os conflitos e na luta contínua por justiça e reconciliação. A transição da guerra para a paz é um exemplo importante de como, mesmo após décadas de violência, é possível construir caminhos de diálogo e democracia.
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