Os Pracinhas na Segunda Guerra Mundial: A História da FEB

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil teve um papel surpreendentemente ativo. A entrada do país no conflito representou um marco na sua história militar e diplomática. Um dos principais símbolos dessa participação foi a Força Expedicionária Brasileira (FEB), composta por cerca de 25 mil soldados, os chamados pracinhas brasileiros, que combateram ao lado dos Aliados na Campanha da Itália

Neste artigo, vamos entender como se deu essa atuação, quais foram os principais combates e o impacto da participação brasileira no cenário internacional e na própria sociedade nacional.

O Brasil e a Segunda Guerra Mundial


Soldados da Força Expedicionária Brasileira marchando na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, usando uniformes de inverno e carregando equipamentos militares.
Imagem gerada por IA

Em um primeiro momento, o Brasil tentou manter uma posição de neutralidade no conflito. Entretanto, o cenário começou a mudar após uma série de ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros em 1942, o que resultou na morte de centenas de civis. A indignação popular levou o governo de Getúlio Vargas a declarar guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), marcando o início da participação brasileira.

A entrada do Brasil na guerra foi também estratégica. Os Estados Unidos, preocupados com a segurança do Atlântico Sul, firmaram acordos com o governo brasileiro, resultando na construção de bases militares no Nordeste e no fornecimento de armamentos e treinamento às tropas brasileiras. A decisão de enviar uma força militar terrestre foi consolidada em 1943 com a criação da FEB.

Formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB)

A FEB foi uma unidade organizada especialmente para lutar na Europa, sob comando aliado. Ela era composta por soldados do Exército e da Aeronáutica, sendo o 1º Escalão da FEB enviado à Itália em julho de 1944.

A preparação dos soldados foi um desafio. Muitos pracinhas não tinham experiência anterior de combate e vieram de diversas regiões do Brasil. A diferença cultural, o clima europeu e o uso de equipamentos desconhecidos foram obstáculos iniciais. Ainda assim, após um período de treinamento, os brasileiros se mostraram aptos para o combate.

A FEB foi incorporada ao 5º Exército dos Estados Unidos, sob comando do general Mark Clark, e ficou subordinada ao IV Corpo de Exército, liderado pelo general Crittenberger. Já o comandante brasileiro era o general João Baptista Mascarenhas de Morais, figura central na liderança dos pracinhas.

Os Pracinhas Brasileiros na Campanha da Itália

A FEB desembarcou em Nápoles e foi direcionada para o norte da Itália, onde enfrentou o rigoroso inverno e o difícil terreno montanhoso dos Apeninos. Sua primeira ação ofensiva ocorreu em setembro de 1944, na região de Massarosa.

Os pracinhas brasileiros participaram de diversas batalhas importantes, sendo as mais destacadas:

1. Tomada de Monte Castello

Essa foi a batalha mais emblemática da FEB. Monte Castello era um ponto estratégico fortemente defendido pelos alemães. Após três tentativas fracassadas, os brasileiros conseguiram conquistar a posição em 21 de fevereiro de 1945. Essa vitória foi crucial para o avanço aliado no norte da Itália.

2. Batalha de Montese

Outro combate decisivo ocorreu em Montese, entre 14 e 17 de abril de 1945. Apesar da intensa resistência alemã e das grandes perdas, os pracinhas conseguiram tomar a cidade. Montese ficou marcada como uma das batalhas mais sangrentas enfrentadas pelos brasileiros, com dezenas de mortos e centenas de feridos.

3. Rendimento de Forças Alemãs em Collecchio

Em 28 de abril de 1945, tropas da FEB cercaram e forçaram a rendição de mais de 14 mil soldados alemães e italianos, em Collecchio e Fornovo di Taro. Esse feito mostrou o preparo e a eficiência dos pracinhas, ganhando o respeito dos aliados.

A Aviação Brasileira na Segunda Guerra: A FAB

Além da FEB, o Brasil também participou com a Força Aérea Brasileira (FAB). O 1º Grupo de Aviação de Caça, formado por pilotos treinados nos Estados Unidos, atuou em missões de bombardeio e reconhecimento.

Os pilotos brasileiros voavam aviões P-47 Thunderbolt e completaram mais de 400 missões de combate. Sua atuação foi fundamental para neutralizar alvos estratégicos inimigos, como pontes, comboios e armazéns de suprimentos.

Reconhecimento Internacional e Repercussões no Brasil

A atuação dos pracinhas foi amplamente reconhecida pelas forças aliadas. Muitos soldados brasileiros foram condecorados por bravura em combate. O Brasil foi o único país da América do Sul a enviar tropas para a frente europeia, o que garantiu ao país um lugar na conferência de paz em São Francisco, onde foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945.

Contudo, ao voltarem para casa, muitos pracinhas encontraram dificuldades. Não houve um suporte eficiente para sua reintegração à sociedade, e muitos sofreram com o esquecimento oficial. Apenas décadas depois foram criadas associações e monumentos em sua homenagem, como o Monumento aos Pracinhas, no Rio de Janeiro.

Legado dos Pracinhas Brasileiros

A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial deixou um legado duradouro:

  • Mudança na mentalidade militar: O contato com forças internacionais e a experiência de combate provocaram reformas dentro das Forças Armadas brasileiras.
  • Fortalecimento das relações exteriores: O Brasil passou a ser visto como um ator mais relevante no cenário global.
  • Memória histórica: Apesar de pouco explorado no ensino escolar, o papel dos pracinhas tem ganhado mais visibilidade nos últimos anos, com livros, filmes e documentários sobre a FEB.

Curiosidades sobre os Pracinhas Brasileiros

  • O símbolo da FEB era uma cobra fumando um cachimbo. Isso surgiu como resposta à descrença de que o Brasil participaria da guerra (“é mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”).
  • A FEB era formada por uma diversidade social e regional imensa, com soldados do Norte ao Sul do país.
  • Mais de 450 pracinhas brasileiros morreram em combate, e muitos estão sepultados no Cemitério de Pistoia, na Itália.

Conclusão

A participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial foi um capítulo heroico da história do Brasil. Apesar dos desafios, os soldados da FEB mostraram coragem, disciplina e comprometimento com a liberdade e a paz mundial. Seu esforço merece ser lembrado não apenas como um ato de bravura, mas também como um marco da inserção do Brasil no cenário internacional do século XX.

A história da FEB e dos pracinhas ainda ecoa, ensinando às novas gerações sobre o valor do sacrifício, da solidariedade entre os povos e da luta contra o autoritarismo.

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Editor do blog

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