O jogo do bicho é um dos jogos de azar mais populares e tradicionais do Brasil, envolvendo apostas em figuras de animais associadas a números. Apesar de ser amplamente conhecido, seu surgimento e a forma como conquistou o espaço na cultura brasileira têm uma história intrigante que se entrelaça com o desenvolvimento social, econômico e político do país.
Este artigo detalha a origem do jogo do bicho, suas primeiras versões e a transformação ao longo dos anos.
O Surgimento no Final do Século XIX
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O zoológico estava enfrentando dificuldades financeiras, e Drummond buscava alternativas para atrair mais visitantes e aumentar a receita.
Inspirado em iniciativas semelhantes de sorteios realizados na Europa, ele criou um sistema simples de loteria que envolvia animais, figuras que já fascinavam o público que visitava o Zoológico. A ideia era inovadora e de fácil compreensão: com a compra de um ingresso, o visitante recebia um bilhete com a estampa de um dos 25 animais selecionados.
No final do dia, um animal era sorteado, e quem tinha o bilhete correspondente ganhou um prêmio em dinheiro.
Os Primeiros Animais e Seus Números
O sistema inicial envolvia 25 animais, e cada um foi associado a um número. Esses números foram divididos em grupos de quatro, formando o que hoje são conhecidos como bolsas . Por exemplo, o avestruz foi o primeiro animal e recebeu os números de 01 a 04. Esse formato facilitou a ampliação do jogo e tornou-se os modificados mais variados e específicos para os apostadores.
A lista original dos 25 animais era a seguinte:
- Avestruz (01-04)
- Águia (05-08)
- Burro (09-12)
- Borboleta (13-16)
- Cachorro (17-20)
- Cabra (21-24)
- Carneiro (25-28)
- Camelo (29-32)
- Cobra (33-36)
- Coelho (37-40)
- Cavalo (41-44)
- Elefante (45-48)
- Galo (49-52)
- Gato (53-56)
- Jacaré (57-60)
- Leão (61-64)
- Macaco (65-68)
- Porco (69-72)
- Pavão (73-76)
- Peru (77-80)
- Touro (81-84)
- Tigre (85-88)
- Urso (89-92)
- Veado (93-96)
- Vacas (97-00)
Cada animal, portanto, abrangia um grupo específico de números, o que permitia combinações e apostas variadas.
Popularização e Expansão
A ideia inicial de Drummond rapidamente se popularizou. Em um contexto social onde a pobreza e as dificuldades econômicas eram comuns, o jogo do bicho oferecia uma oportunidade acessível e emocionante de mudar a sorte com uma aposta simples.
Além disso, o uso de símbolos populares como os animais tornou o jogo ainda mais atraente para a população.
O sucesso inicial no Zoológico levou ao crescimento das apostas fora do ambiente original. Bancos de jogo surgiram pelas ruas do Rio de Janeiro, organizados por banqueiros que gerenciavam as apostas e os prêmios.
Com o tempo, as apostas deixaram de estar vinculadas ao ingresso do zoológico, transformando-se em um sistema paralelo de loteria.
Legalidade e Proibição
Embora tenha começado como uma atividade lícita e relacionada ao zoológico, o jogo do bicho logo atraiu atenção negativa das autoridades. A popularização sem regulamentação levou à sua regulamentação no início do século XX.
O primeiro decreto que tornou a prática ilegal foi promulgado em 1941, com o advento da Lei das Contravenções Penais.
Mesmo com a concessão, o jogo do bicho continua a prosperar. Sua flexibilidade, simplicidade e a próxima relação entre apostadores e banqueiros desenvolvida para sua perpetuação como uma atividade informal.
Muitas vezes tolerado pela população e pelas próprias forças policiais, o jogo acabou se tornando parte do cotidiano brasileiro, especialmente em estados como Rio de Janeiro e São Paulo.
Cultura Popular e Superstições
O jogo do bicho está profundamente enraizado na cultura popular brasileira. Ele participou de músicas, expressões idiomáticas e supersticiosas. Muitas pessoas associam números ou eventos cotidianos a determinados animais, utilizando interpretações baseadas em sonhos ou acontecimentos para fazer suas apostas.
Por exemplo, sonhar com um cavalo pode levar um jogador a apostar no número correspondente a esse animal (41-44). Esse tipo de raciocínio intuitivo e simbólico faz parte da mística do jogo e ajuda a explicar sua longevidade e popularidade.
Impacto Econômico e Social
Embora seja considerado uma contravenção, o jogo do bicho gera uma economia paralelamente significativa. Ele emprega milhares de pessoas, desde anotadores de apostas até banqueiros. Além disso, há relatos de que muitos banqueiros do bicho investem em projetos sociais e culturais em suas comunidades, aumentando a complexidade do debate sobre sua legalização.
A Questão da Legalização
Ao longo das décadas, houve várias tentativas de jogo do bicho, mas todas enfrentaram resistências e controvérsias. Os defensores argumentaram que a legalização permitiria maior controle, geração de impostos e segurança para os apostadores. Os críticos, por outro lado, apontam para os riscos de corrupção e exploração associados aos jogos de azar.
Conclusão
O jogo do bicho começou como uma solução criativa para sustentar um zoológico, mas evoluiu para se tornar uma instituição cultural e econômica no Brasil. Mesmo sendo uma atividade ilegal, continua a fascinar e envolver milhões de brasileiros, refletindo uma parte única da história e da identidade nacional. O debate sobre sua legalização permanece, mas sua importância cultural dificilmente será esquecida.
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