A história dos judeus no Brasil é marcada por momentos de tolerância, perseguição e reinvenção. Desde os primeiros cristãos-novos que chegaram com a colonização portuguesa até os imigrantes que contribuíram para o desenvolvimento do país, os judeus deixaram marcas profundas na cultura e sociedade brasileira.
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Sinagoga Judaica, a primeira da América Latina |
Origens: Os cristãos-novos na colonização
Os primeiros judeus a chegarem ao Brasil vieram junto com os portugueses no século XVI. Na época, muitos deles eram judeus sefarditas convertidos à força ao cristianismo – os chamados cristãos-novos –, vítimas da Inquisição em Portugal.
Temendo perseguições, muitos esconderam suas práticas religiosas e passaram a praticar o criptojudaísmo: seguiam os rituais judaicos em segredo, como guardar o sábado ou não comer carne de porco.
Cidades como Recife, na Capitania de Pernambuco, se destacaram como centros de presença judaica já no século XVII.
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Créditos da foto: Mural de História |
A Sinagoga mais antiga das Américas
Em Recife, durante o período da ocupação holandesa (1630-1654), os judeus encontraram maior liberdade religiosa sob o domínio da Companhia das Índias Ocidentais. Ali foi fundada a Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga das Américas.
O rabino Isaac Aboab da Fonseca, vindo de Amsterdã, foi uma figura central para essa comunidade. Quando os holandeses foram expulsos, muitos judeus foram perseguidos e outros migraram para lugares como Nova Amsterdã (atual Nova York), onde ajudaram a fundar a primeira comunidade judaica dos EUA.
Séculos de invisibilidade e repressão
Com o fim do domínio holandês, a Inquisição foi reativada em terras brasileiras, tornando perigosa qualquer prática do judaísmo. Isso forçou muitos judeus e descendentes a esconder suas origens ou se dispersar. Por quase dois séculos, a presença judaica no Brasil foi invisível ou clandestina.
Retorno com a imigração no século XIX
Foi apenas com a chegada da imigração moderna, entre os séculos XIX e XX, que os judeus voltaram a se estabelecer no Brasil de forma aberta. Vieram principalmente de:
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Marrocos, rumo ao Norte e Nordeste, como na cidade de Belém;
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Europa Central e Oriental (Polônia, Rússia, Lituânia), fugindo de pogroms e guerras;
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Síria e Líbano, como parte da diáspora sefardita do Oriente Médio.
Esses imigrantes trouxeram consigo tradições religiosas, culturais e empreendedoras, criando sinagogas, escolas, clubes e ajudando a organizar a vida comunitária judaica em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife.
Contribuições para o Brasil
Ao longo dos séculos XX e XXI, os judeus brasileiros se destacaram em diversas áreas:
Na cultura: artistas como Lasar Segall, Clarice Lispector (nascida em uma família judia ucraniana) e Arnaldo Jabor.
Na ciência: o médico e sanitarista Samuel Pessoa; e muitos profissionais nas áreas de medicina, engenharia e direito.
Nos negócios: empreendedores ajudaram a desenvolver setores do comércio, da indústria têxtil e da educação.
Na política: figuras como o ex-ministro Sérgio Danese e o diplomata Osvaldo Aranha, que presidiu a sessão da ONU que aprovou a criação do Estado de Israel em 1947.
Antissemitismo e resistência
Apesar das contribuições, os judeus brasileiros também enfrentaram episódios de preconceito e antissemitismo, especialmente nas décadas de 1930 e 1940, com a ascensão de ideologias fascistas e a presença de simpatizantes nazistas no Brasil. O governo Vargas restringiu a entrada de judeus refugiados durante a Segunda Guerra Mundial.
Movimentos judaicos e inter-religiosos vêm trabalhando desde então para combater a intolerância e promover a educação sobre o Holocausto, os direitos humanos e a diversidade cultural.
Judaísmo no Brasil hoje
Hoje, estima-se que existam cerca de 120 mil judeus no Brasil, com comunidades ativas em vários estados. A pluralidade é uma característica marcante: há desde judeus ortodoxos a reformistas, além de movimentos judaicos laicos.
As datas judaicas, como o Yom Kipur, o Pessach (Páscoa Judaica) e o Rosh Hashaná (Ano Novo Judaico), são celebradas em sinagogas, centros culturais e escolas em todo o país.
Conclusão
A história dos judeus no Brasil é a história de adaptação, resistência e contribuição. De perseguidos pela Inquisição a protagonistas em diversas áreas do conhecimento, os judeus ajudaram a construir a diversidade que compõe o Brasil de hoje. Entender essa trajetória é valorizar não apenas uma comunidade, mas também o papel fundamental da tolerância e da liberdade religiosa na construção de um país mais justo e plural.
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