Os judeus sefarditas representam um dos ramos mais antigos e influentes do povo judeu. Sua história é marcada por glórias culturais, perseguições religiosas e uma rica herança que se estende por diversas regiões do mundo.
Neste artigo, vamos explorar a origem dos judeus sefarditas, suas tradições, a expulsão da Península Ibérica e como sua identidade moldou comunidades judaicas em várias partes do globo.
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Imagem ilustrativa crida por IA |
O que significa "sefardita"?
O termo “sefardita” deriva da palavra Sefarad, que na tradição judaica se refere à Península Ibérica — mais especificamente aos territórios que hoje correspondem à Espanha e Portugal. Assim, os judeus sefarditas são os descendentes das comunidades judaicas que viveram na Península Ibérica até a expulsão ordenada pelos monarcas católicos no final do século XV.
As origens dos judeus sefarditas na Península Ibérica
A presença judaica na Península Ibérica remonta ao período romano, cerca do século I d.C. Durante séculos, os judeus viveram em relativa paz, especialmente sob o domínio muçulmano na Al-Andalus, onde floresceram na ciência, medicina, poesia, filosofia e comércio.
Durante os séculos IX ao XII, ocorreu o chamado “Século de Ouro da cultura judaica na Espanha”, com destaque para sábios como:
- Maimônides (Moshé ben Maimon): filósofo e médico nascido em Córdoba.
- Judá Halevi: poeta e pensador religioso.
- Hasdai ibn Shaprut: médico e diplomata judeu na corte de Córdoba.
Nesse período, a convivência com cristãos e muçulmanos permitiu o desenvolvimento de uma cultura judaica própria, marcada pelo uso da língua ladina (uma variante do espanhol medieval com elementos hebraicos) e por práticas religiosas distintas.
A perseguição e a expulsão
Com a Reconquista Cristã e o fortalecimento da monarquia católica, a situação dos judeus na Península começou a deteriorar. A partir do século XIII, aumentaram as pressões para a conversão forçada ao cristianismo. Em 1391, pogroms violentos devastaram comunidades judaicas em Sevilha, Toledo e outras cidades.
O golpe final veio com os Decretos de Expulsão:
- Espanha (1492): Os Reis Católicos, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, assinaram o Édito de Granada, expulsando todos os judeus que não se convertessem ao cristianismo.
- Portugal (1496): O rei D. Manuel I seguiu o exemplo espanhol, mas promoveu conversões forçadas em massa.
Os judeus que se recusaram a se converter fugiram para o norte da África, Império Otomano, Itália, Países Baixos, Américas e outras partes da Europa. Aqueles que se converteram — os chamados “cristãos-novos” — muitas vezes continuaram a praticar o judaísmo em segredo, fenômeno conhecido como criptojudaísmo.
A diáspora sefardita
A expulsão da Península Ibérica deu origem à diáspora sefardita, que levou esses judeus a espalharem-se por diversas regiões:
Império Otomano
O sultão Bayezid II recebeu os judeus sefarditas de braços abertos, reconhecendo seu valor econômico e cultural. Grandes comunidades floresceram em Salônica, Istambul, Esmirna e Sarajevo.
Norte da África
Países como Marrocos, Tunísia e Argélia tornaram-se lares para muitos judeus sefarditas, que ali mantiveram tradições religiosas e culturais próprias, influenciadas pelas populações muçulmanas locais.
Países Baixos e Europa Ocidental
Na Holanda, especialmente em Amsterdã, os judeus sefarditas encontraram liberdade religiosa e prosperaram no comércio e nas artes. Lá, surgiram figuras como Bento de Espinosa (Baruch Spinoza), filósofo que marcou a história do pensamento ocidental.
América Latina e Caribe
Muitos judeus sefarditas, alguns ainda como cristãos-novos, participaram da colonização das Américas. Estiveram presentes em lugares como o Brasil colonial, Curaçao, Suriname e Caribe espanhol. Alguns chegaram até Nova Amsterdã (atual Nova York), onde fundaram a primeira sinagoga dos EUA.
A cultura sefardita: identidade, língua e religião
Língua Ladina
Um dos maiores símbolos da identidade sefardita é o ladino, também conhecido como judeu-espanhol. Essa língua foi mantida viva por séculos em comunidades dos Bálcãs, Turquia e norte da África. O ladino combina vocabulário espanhol arcaico, hebraico, turco, grego e árabe. Até hoje existem publicações, músicas e liturgias em ladino.
Tradições religiosas
Os sefarditas seguem tradições rabínicas distintas dos ashkenazitas (judeus da Europa Central e Oriental). As diferenças incluem:
- Costumes culinários (uso de especiarias orientais e pratos como couscous, legumes recheados e peixe com molho agridoce).
- Práticas litúrgicas (siddurim próprios e entoações musicais específicas).
- Ênfase na música e no canto litúrgico (piyyutim).
Feriados e práticas
Embora compartilhem as principais festas judaicas (como Pessach, Rosh Hashaná e Yom Kipur), os sefarditas possuem formas específicas de celebração. A Mimuna, por exemplo, é uma festa tradicional de origem marroquina celebrada após o fim da Páscoa.
Judeus sefarditas hoje
No século XXI, a cultura sefardita continua viva, embora tenha sofrido perdas significativas, especialmente após o Holocausto, que dizimou comunidades sefarditas nos Bálcãs e na Grécia.
Hoje, existem comunidades sefarditas relevantes em países como:
- Israel: onde sefarditas e mizrahim (judeus do Oriente Médio) formam uma parcela significativa da população.
- França: especialmente judeus vindos do norte da África após a descolonização francesa.
- Estados Unidos, México e Brasil: onde mantêm sinagogas, centros culturais e associações.
Alguns governos, como o da Espanha e Portugal, reconheceram sua dívida histórica com os sefarditas e criaram leis permitindo a reobtenção da cidadania para descendentes.
Conclusão
Os judeus sefarditas são um elo fundamental na história do povo judeu e da civilização ocidental. Sua trajetória, iniciada na Península Ibérica e espalhada pelo mundo, demonstra resiliência diante da intolerância e a capacidade de manter uma identidade vibrante mesmo após séculos de dispersão.
Com sua rica tradição religiosa, cultural e linguística, os sefarditas continuam a contribuir para a diversidade do judaísmo global e para a memória histórica da humanidade.
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