A Era Vargas. Poucos personagens da história do Brasil geram tantas discussões e opiniões tão divergentes quanto Getúlio Vargas. Para alguns, ele foi o "pai dos pobres", o líder carismático que trouxe direitos trabalhistas e industrializou o país.
Para outros, foi um ditador, que governou com mão de ferro e perseguiu seus opositores. Mas uma coisa é certa: seu legado moldou o Brasil moderno.
Vargas governou o país em dois momentos: primeiro de 1930 a 1945, passando pelo período do Estado Novo (1937-1945), quando governou de forma autoritária. Depois, voltou ao poder pelo voto popular, governando de 1951 a 1954.
A Revolução de 1930: Vargas Chega ao Poder
O Brasil da década de 1920 ainda era dominado pelas oligarquias agrárias, especialmente de São Paulo e Minas Gerais, que se alternavam no poder na chamada política do café com leite. Essa estabilidade política começou a ruir quando a crise de 1929 atingiu a economia brasileira, derrubando o preço do café – principal produto de exportação do país.
Em 1930, uma eleição presidencial foi organizada, e a elite paulista apoiou o candidato oficial, Júlio Prestes. Do outro lado, estava a oposição, representada por Getúlio Vargas, governador do Rio Grande do Sul.
Quando Prestes venceu, a oposição denunciou fraude e, com o assassinato de João Pessoa (vice na chapa de Vargas), um clima de revolta tomou conta do país.
Em outubro de 1930, militares e grupos insatisfeitos depuseram o presidente Washington Luís, e Getúlio Vargas assumiu o poder. Era o fim da República Velha e o início de uma nova era para o Brasil.
1930-1937: A Construção do Populismo e o Fim da Democracia
Vargas assumiu prometendo modernizar o Brasil e romper com o domínio das oligarquias cafeeiras. Centralizou o poder, dissolveu o Congresso e governou por decretos. Ele soube usar a comunicação a seu favor, criando uma imagem de líder próximo ao povo – o que mais tarde se consolidaria como populismo.
Ele não governava apenas para os trabalhadores ou para os empresários; fazia concessões para ambos, mantendo sua popularidade. Uma de suas grandes jogadas foi a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), garantindo direitos como salário mínimo, jornada de trabalho reduzida e férias remuneradas.
No entanto, os sindicatos ficaram sob controle do governo, o que impedia greves e manifestações contrárias ao regime.
Em 1932, São Paulo tentou retomar o poder na Revolução Constitucionalista, mas Vargas venceu. Em 1934, uma nova Constituição foi promulgada, tornando o Brasil mais democrático. No entanto, a ascensão de movimentos extremistas – como a Ação Integralista Brasileira (fascista) e a Aliança Nacional Libertadora (comunista) – levaria Vargas a reforçar o controle sobre o país.
O Estado Novo (1937-1945): O Ditador Vargas
O pretexto para o golpe que instaurou o Estado Novo foi o Plano Cohen, um suposto plano comunista para tomar o poder no Brasil. Descobriu-se depois que o documento era falso, mas serviu para Vargas fechar o Congresso, abolir os partidos políticos e governar como um ditador.
Nesse período, Vargas inspirou-se no modelo fascista europeu: fortaleceu o nacionalismo, promoveu o culto à sua própria imagem e usou propaganda para convencer a população de que ele era o grande responsável pelo progresso do Brasil.
Foi também durante o Estado Novo que Vargas impulsionou a industrialização. Criou grandes estatais como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale do Rio Doce e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). Seu governo investiu na produção de aço e energia, preparando o Brasil para se tornar uma potência industrial.
Mas tudo mudou com a Segunda Guerra Mundial. Vargas inicialmente manteve o Brasil neutro, mas, pressionado pelos EUA, acabou declarando guerra à Alemanha e enviou tropas para lutar na Itália. Com o fim da guerra, a ditadura ficou insustentável: os próprios militares que o apoiavam começaram a exigir eleições democráticas. Em 1945, Vargas foi deposto, mas saiu do poder ainda popular.
O Retorno Pelo Voto (1951-1954): O Nacionalismo e o Suicídio de Vargas
Vargas ficou afastado da política por alguns anos, mas sua imagem nunca deixou de ser forte. Em 1950, venceu as eleições presidenciais com grande apoio popular. No entanto, o Brasil de 1951 era muito diferente do país que ele governara antes.
A economia estava mais complexa, havia uma forte oposição da elite empresarial e dos militares, e a imprensa – especialmente o jornal "Tribuna da Imprensa" de Carlos Lacerda – fazia forte oposição ao governo.
Mesmo assim, Vargas manteve seu viés nacionalista e industrializante. Criou a Petrobras, fortalecendo o discurso de que o petróleo deveria ser do Brasil ("O petróleo é nosso!"). Também investiu no setor elétrico e defendeu maior participação do Estado na economia.
Mas a oposição era feroz. O governo enfrentava dificuldades econômicas e aumento da inflação. Além disso, Vargas perdeu apoio entre os militares, que não viam com bons olhos suas políticas nacionalistas.
O momento decisivo veio em agosto de 1954, com o Atentado da Rua Tonelero. O jornalista Carlos Lacerda foi alvo de um atentado, e as investigações apontaram para pessoas próximas a Vargas. A crise política se agravou e os militares exigiram sua renúncia.
Na madrugada de 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas tomou uma decisão dramática: suicidou-se em seu quarto no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Deixou uma carta-testamento na qual dizia que saía da vida para entrar na história. Sua morte gerou uma comoção nacional, e sua imagem de líder popular foi ainda mais fortalecida.
O Legado da Era Vargas
Getúlio Vargas deixou marcas profundas no Brasil. Ele transformou o país de uma economia agrária para uma economia mais industrializada, consolidou direitos trabalhistas e fortaleceu o nacionalismo econômico.
Mas sua trajetória também foi marcada por autoritarismo, censura e perseguições políticas. O Estado Novo foi um período de ditadura, no qual Vargas governou sem eleições e suprimiu liberdades individuais.
Mesmo assim, sua influência na política brasileira foi tão grande que muitos presidentes que vieram depois seguiram suas ideias, seja na economia, seja no trato com as massas. O Brasil moderno, com sua estrutura industrial e trabalhista, foi amplamente moldado durante a Era Vargas.
Vargas foi amado e odiado, mas, acima de tudo, foi um dos personagens mais fascinantes da nossa história.
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