O que foi a Política do Café com Leite?

A Política do Café com Leite foi um dos principais arranjos políticos da Primeira República no Brasil (1889-1930). Essa política consistia no revezamento no poder entre as elites de São Paulo e Minas Gerais, garantindo que as eleições presidenciais fossem dominadas por representantes desses estados. Seu nome faz referência aos produtos econômicos predominantes das duas regiões: o café paulista e o leite mineiro.

Esse acordo informal entre as oligarquias regionais teve grande influência na política brasileira por décadas, mas acabou enfraquecendo e sendo um dos fatores que levaram à Revolução de 1930 e ao fim da Primeira República. 

Neste artigo, vamos explorar os detalhes desse sistema, suas origens, funcionamento e consequências.




Origens da Política do Café com Leite

O contexto da Primeira República

A Primeira República (1889-1930) começou com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, quando o marechal Deodoro da Fonseca depôs o imperador Dom Pedro II. Esse período foi marcado pelo domínio das oligarquias agrárias e pelo voto de cabresto, que garantia o controle das eleições por grandes latifundiários e coronéis.

A economia do Brasil nesse período era baseada na agricultura de exportação, especialmente no café, que se concentrava principalmente em São Paulo, e na pecuária e produção de laticínios de Minas Gerais. Como esses dois estados eram os mais ricos e influentes, eles passaram a alternar o poder na presidência da República.

Oligarquias regionais e o sistema de revezamento

Com a estrutura política dominada por fazendeiros e grandes produtores rurais, as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais firmaram um acordo não oficial para garantir que seus candidatos fossem eleitos à presidência. Esse esquema político impediu que outros estados tivessem participação significativa na presidência do Brasil.

A Política do Café com Leite fazia parte de um sistema maior conhecido como política dos governadores, em que o presidente da República favorecia os governadores estaduais, que, por sua vez, apoiavam os coronéis locais. Essa estrutura assegurava que os candidatos escolhidos pelas elites paulistas e mineiras fossem eleitos, perpetuando o revezamento entre esses estados.


Como funcionava a Política do Café com Leite?

Manipulação eleitoral

A base desse sistema era o controle das eleições. Como o voto não era secreto e grande parte da população não tinha direito ao voto (como mulheres e analfabetos), os coronéis exerciam forte influência sobre os eleitores. Esse controle era exercido através do voto de cabresto, onde os eleitores eram pressionados ou obrigados a votar nos candidatos escolhidos pelos líderes locais.

Além disso, havia uma prática conhecida como "degola", em que o Congresso Nacional, controlado pelas elites dominantes, impedia a posse de opositores por meio de acusações de fraude eleitoral, garantindo que apenas os aliados da Política do Café com Leite assumissem cargos importantes.

Alternância no poder

Entre 1894 e 1930, os presidentes do Brasil eram, em sua maioria, originários de São Paulo ou Minas Gerais. A tabela abaixo mostra como essa alternância funcionava:

AnoPresidenteEstado
1894-1898Prudente de MoraisSão Paulo
1898-1902Campos SalesSão Paulo
1902-1906Rodrigues AlvesSão Paulo
1906-1909Afonso PenaMinas Gerais
1909-1910Nilo Peçanha (interino)Rio de Janeiro
1910-1914Hermes da FonsecaRio Grande do Sul
1914-1918Venceslau BrásMinas Gerais
1918-1919Rodrigues Alves (não assumiu por doença)São Paulo
1919-1922Epitácio PessoaParaíba
1922-1926Artur BernardesMinas Gerais
1926-1930Washington LuísSão Paulo

Apesar da influência do esquema, houve algumas exceções, como a eleição de Hermes da Fonseca (1910-1914) e Epitácio Pessoa (1919-1922), que não eram de São Paulo nem de Minas Gerais.


O declínio da Política do Café com Leite

A crise de 1929 e seus impactos no Brasil

A Grande Depressão de 1929 teve um impacto significativo na economia brasileira, principalmente porque o país dependia fortemente da exportação de café. Com a queda dos preços no mercado internacional, a insatisfação com o governo federal cresceu, afetando diretamente a base política da Política do Café com Leite.

Além disso, outras regiões do Brasil começaram a se sentir excluídas do poder e passaram a contestar o domínio de São Paulo e Minas Gerais. O movimento tenentista, que surgiu na década de 1920, também criticava a corrupção e a manipulação política da Primeira República.

A eleição de 1930 e a Revolução

A crise definitiva para a Política do Café com Leite aconteceu nas eleições presidenciais de 1930. Washington Luís, presidente de São Paulo, deveria apoiar um candidato de Minas Gerais para manter o acordo político. No entanto, ele escolheu Júlio Prestes, também paulista, rompendo o pacto.

Minas Gerais, sentindo-se traída, se aliou ao Rio Grande do Sul e à Paraíba, formando a Aliança Liberal, que lançou Getúlio Vargas como candidato da oposição. Júlio Prestes venceu as eleições, mas a oposição acusou fraude e se recusou a aceitar o resultado.

O estopim veio com o assassinato de João Pessoa, vice de Vargas, em julho de 1930. Isso gerou uma onda de revolta que culminou na Revolução de 1930, na qual Getúlio Vargas assumiu o poder e deu fim à Primeira República, encerrando a Política do Café com Leite.


Consequências e legado

A queda da Política do Café com Leite marcou o início da Era Vargas (1930-1945), um período de grandes mudanças no Brasil. Entre as principais consequências da Revolução de 1930, destacam-se:

  • Fim do domínio das oligarquias paulistas e mineiras: Outras regiões do país passaram a ter maior participação na política nacional.
  • Criação de novas instituições políticas: Vargas modernizou o Estado brasileiro e fortaleceu o governo federal.
  • Fim do voto de cabresto: Com o tempo, o sistema eleitoral passou por reformas, incluindo a introdução do voto secreto e a ampliação do direito ao voto.

Embora tenha sido um sistema marcado por fraudes e exclusão política, a Política do Café com Leite ajudou a consolidar a estrutura de poder no Brasil durante a Primeira República. Seu legado ainda influencia a política brasileira, especialmente na questão da influência das elites regionais nas eleições.


Conclusão

A Política do Café com Leite foi um acordo político que garantiu o domínio de São Paulo e Minas Gerais sobre a presidência do Brasil na Primeira República. Baseada na manipulação eleitoral e na alternância no poder, essa política se manteve por décadas até ser derrubada pela Revolução de 1930.

Seu fim marcou uma nova fase na história do Brasil, abrindo caminho para mudanças políticas e econômicas que moldaram o país no século XX. Entender esse período é essencial para compreender as raízes do sistema político brasileiro e os desafios que ele enfrentou ao longo da história.

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Editor do blog

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